quarta-feira, 19 de abril de 2017

Plantas nativas no paisagismo


Existe uma ideia na mente do brasileiro de que tudo que é de fora é melhor. E infelizmente com as plantas isso também ocorre. Desde a colonização, ter um jardim com plantas estrangerias era símbolo de status e poder. Isso mostrava que a pessoa era viajada e poderosa.
Em paralelo, a colonização ao longo dos últimos anos culminou na redução drástica da área de ocorrência dos nossos domínios de vegetação, observando remanescentes restritos a pequenos fragmentos. Espécie lindas foram perdidas para sempre e outras reduzidas a poucos e raros indivíduos, com grave erosão gênica.
Em São Paulo, por exemplo, temos relatos históricos descrevendo campos coloridos com flores de todas as formas e cores (Foto 1). São os Campos de Piratininga descritos pelo botânico Usteri no início do século XX. Sabemos, hoje, que estes campos possuíram uma rica flora caracterizada por elementos florísticos de campos de altitude e de campos cerrados do interior paulista. Saiba mais sobre este tipo de vegetação muito interessante da Região Metropolitana de São Paulo aqui !
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Foto 1: Hyppeastrum sp. (hipeastrum), uma espécie nativa, representado em trecho de Floresta Ombrófila Densa no município de Embu das Artes, SP.
Atualmente, o paisagismo paulista se resume a centenas de espécies estrangeiras que compõem mais de 90% dos projetos paisagísticos. Esse quadro não faz sentido algum se analisarmos a imensa quantidade de plantas nativas existentes em nosso Estado.

Quando comecei no paisagismo, me deparei com um setor viciado e acomodado ao que o mercado oferece. Como sempre tive ligação com a Ecologia, decidi inovar e propor um paisagismo totalmente diferente do usualmente empregado.
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Foto 2: Andropogon leuchostachyus, um capim nativo da Região Metropolitana de São Paulo.
Desde então, vivo em busca de novas espécies e comecei um trabalho de introdução delas nos jardins. Para minha surpresa, não tive dificuldade alguma de adaptação dessas espécies, como os capins do gênero Andropogon (Foto 2), as “juquerys” (Mimosa sp.), as línguas de tucano etc.
Elas não somente se adaptaram, como se reproduziram natural e rapidamente.
As plantas nativas são tão bonitas quanto as exóticas?
Num país com a maior biodiversidade do planeta, possuindo a maior riqueza vegetal do mundo, com quase 50 mil espécies de vegetais nativos, seria impossível você não achar substitutos à altura para as plantas estrangeiras comumente usadas no paisagismo.
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Foto 3: Exemplar fértil de Byrsonima intermedia (murici), uma espécie caracterizadora do Cerrado e que ocorre nos encraves de campos da Região Metropolitana de São Paulo.
Chega a ser contraditório o país com a maior riqueza vegetal do planeta utilizar 90% de plantas estrangeiras em seu paisagismo. Temos plantas nativas lindíssimas desde árvores até arbustos, orquídeas, bromélias, plantas rasteiras, de todas as formas e cores, sem contar as muitas que possuem frutos comestíveis.

Mas, infelizmente, são pouco conhecidas pela população e os próprios paisagistas não se esforçam em pesquisar e reproduzir estas espécies, chamando-as simplesmente de “mato”.
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Foto 4: Exemplar de Tibouchina sp. (Manacazinho do cerrado) presente em Campo Cerrados degradados no entorno da cidade de São Paulo, SP.
Veja o exemplo de algumas plantas nativas do cerrado paulista, como o murici (Foto 3), o manacazinho-do-cerrado (Foto 4) e o juquery (Foto 5) que, além de lindas, contribuem imensamente na alimentação de polinizadores como borboletas, vespas e besouros.
As plantas nativas são tão resistentes quanto às exóticas?
As plantas nativas estão há milhões de anos se adaptando geração após geração ao nosso clima. Ano após ano elas criam pequenas adaptações para suportarem as épocas de calor, chuva e frio do nosso país.
Ao contrário disso, uma planta estrangeira está adaptada ao seu local de origem. Sua genética não está adaptada ao nosso clima e o resultado disso é, em muitos casos, a perda de plantas na implantação de um jardim.
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Foto 5: Floração de Mimosa sp. (Juquery) em Campos Cerrados paulistanos.
Quando executo um jardim só com nativas a perda de plantas é, na grande maioria dos casos, inexistente.
 Veja este experimento de desenvolvimento de um “protótipo” de Campo-cerrado como aquele originalmente descrito pelos botânicos no início do século XX para a Região Metropolitana de São Paulo feito por mim no parque Francisco Rizzo, em Embú das Artes – SP (Foto 6 e 7).
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 Foto 6: Representação de um Campo-Cerrado paulistano elaborado no Parque Francisco Rizzo, em Embu das Artes, SP. Data: junho/2016.
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Foto 7: Representação do Campo-cerrado plantado no Parque Francisco Rizzo, em Embu das Artes, SP. Data: Janeiro/2017.
As plantas formaram um “mini-ecossistema” compacto e funcional, atraindo grande quantidade de polinizadores.

Precisamos voltar às nossas origens, resgatar nossa identidade. E por que não, começarmos em nossos jardins?


Fonte: efloraweb
Esta coluna é de responsabilidade de Hamilton Cezar (Brasiliensis Paisagismo – www.brasiliensispaisagismo.com). Contato: brasiliensispaisagismo@gmail.com.

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