Em 1819, o zoólogo Johann Baptiste Von Spix e o botânico Karl Friedrich Philipp von Martius lideravam uma expedição científica pelo Brasil. Quando passaram pela Caatinga, na região de Juazeiro, na Bahia, os pesquisadores alemães observaram uma ave semelhante a uma arara-azul, mas com a metade do tamanho. Ela possuía asas estreitas, cauda longa e um voo característico. Claramente se tratava de uma nova espécie: a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii).
Após a descoberta, ela passou a ser desejada por colecionadores de aves e o tráfico de animais se tornou seu maior inimigo. As queimadas, o desmatamento e o pastoreio – que destruíam (e ainda destroem) a Caatinga – contribuíam para a diminuição da população e, em 1986, quando foi determinada a área de ocorrência da espécie, havia mais ararinhas em cativeiro do que na natureza. Só restavam três indivíduos na região dos riachos Melancia e Barra Grande, em Curaçá, na Bahia
Em 1990, uma expedição avistou o último representante no habitat natural. Todos os esforços se voltaram para a conservação da ararinha-azul. Os pesquisadores observaram o animal, coletaram dados e descobriram que se tratava de um macho.
Para tentar salvar a espécie, uma fêmea, criada em cativeiro, foi reintroduzida. Era esperado que ela formasse uma nova família com o macho selvagem. No entanto, há 13 anos, a ararinha-azul foi avistada pela última vez. A espécie entrou para a lista vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês) como animal possivelmente extinto na natureza.
Mas nem tudo está perdido. Ainda restam 79 indivíduos em cativeiro, e o projeto Ararinha na Natureza, criado em 2012, luta para que a espécie volte a pintar de azul o céu da Caatinga.
Segundo Camile Lugarini, coordenadora do Plano de Ação Nacional para a conservação da ararinha-azul, “o projeto Ararinha na Natureza tem como objetivo restabelecer uma população selvagem da espécie e garantir a proteção de seu habitat. Com ações de curto, médio e longo prazo, a ideia é implementar políticas públicas voltadas à conservação da ararinha, aumento do conhecimento científico, proteção e recuperação dos habitats e campanhas de disseminação e educação ambiental”.
Os mantenedores que possuem os indivíduos em cativeiro (Association for the Conservation of Threatened Parrots, Al Wabra Wildlife Preservation, Nest e Fundação Lymington) são parceiros do projeto, e serão responsáveis pela reprodução da espécie em cativeiro. É necessário atingir um número de indivíduos satisfatório para que parte da população possa ser reintroduzida no habitat natural da espécie.
Mas, antes de reintroduzir a primeira ararinha-azul na Caatinga é preciso se preocupar com as espécies que continuam vivendo por lá. Reintroduções podem propiciar efeitos negativos na população residente. A competição, predação e transmissão de doenças são capazes de levar o programa ao fracasso. “Todos os procedimentos estão sendo adotados de acordo com as diretrizes da IUCN para soltura e reintrodução, levando em consideração um extenso estudo para avaliar as espécies que podem competir por ninhos, alimento, dentre outros. Os efeitos nas ararinhas reintroduzidas assim como na comunidade residente serão avaliados e monitorados em longo prazo”, afirma a coordenadora.
Com a proteção efetiva do habitat da espécie, o combate ao tráfico, o aumento da população em cativeiro e o apoio da comunidade local, nacional e internacional, Camile acredita que as primeiras experiências de reintrodução podem começar a partir de 2017. Se isso ocorrer, a espécie será retirada da lista de animais possivelmente extintos na natureza e voltará a voar pela Caatinga.
O projeto Ararinha na Natureza é uma parceria do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) com a Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil) e os mantenedores que possuem os indivíduos em cativeiro, com patrocínio da empresa Vale e gestão financeira do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
Fonte: http://viajeaqui.abril.com.br/
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