Ativos, idosos aproveitam o trabalho na horta para se reunir, conversar e se divertir. (Foto Luciana Doneda) |
Envelhecer plantando novas ideias é a proposta de pequenas cidades italianas para dar vida e viço aos seus idosos. Em Forlì, cidade de 118 mil habitantes, na região da Romanha, a prefeitura criou o projeto “Horta para idosos”, 17 terrenos espalhados pela cidade que acolhem 725 hortas e envolvem 650 idosos com mais de 60 anos. “É um serviço de solidariedade social para os idosos que têm necessidade de se sentir úteis e ativos e que valoriza um espaço urbano improdutivo”, explica Raoul Mosconi, assessor de quarteirões e participação da prefeitura de Forlì, que todos os anos publica edital para a concessão das hortas. “Queremos que os idosos da cidade não se sintam um peso para a família e a sociedade e sejam capazes de experimentar uma nova fase ativa da vida”.
Carla tem 69 anos e participa da Associação Anziani Primavera, responsável pelo cultivo do horto Ca’ Rossa. “Não ganho nada, a não ser a satisfação de comer o que cultivo. O sabor do tomate plantado por mim não existe no tomate que encontro nos supermercados”, conta a aposentada, que além de cuidar dos seus pés de tomate e alface gosta de organizar almoços entre os colegas no verão, sob as árvores que rodeiam as 36 hortas cultivadas em Ca’ Rossa. Giuseppe, o Pandorinoou Pomodorino, 80 anos, como diz o apelido é especialista em tomatinhos, que servem para fazer deliciosas conservas ou serem apreciados na salada. “Sou muito orgulhoso do que faço aqui, quando me aposentei não imaginei que fosse ficar tão ocupado”, revela. O horto é antes de tudo um instrumento social, não de lucro.
Ao fundo da horta uma casa de madeira é a sede da associação, que tem presidente, vice, tesoureiro, fundo de reserva para compra de sementes e instrumentos de trabalho, além de fogão, grelhas para churrasco, tudo que serve para trabalhar e para confraternizar. “Nos últimos anos recebemos visitas do exterior, da Bélgica, da Alemanha, que vieram conhecer nosso trabalho e usar esse exemplo lá no país deles”, conta Giulio Rossi, 78 anos, que, além de plantar e colher, gosta de ficar na horta para jogar baralho e conversar com os outros camponeses urbanos de Forlì. Além de remexer a terra, os participantes movimentam o coração e a vida social, através da integração e da solidariedade, e voltam a ser protagonistas das próprias vidas.
Pés de tomates, abobrinhas, berinjelas, alface, rúcula, pimentões, alecrim, manjericão e lavanda espalhados nos retângulos de cultivo nas hortas de 40 metros quadrados cada uma. Algumas mais verdejantes que outras. “A beleza depende um pouco do tempo que dedicamos a elas”, explica Quinzio, 87 anos, “como tudo que se faz na vida”, completa na sua sabedoria de velho observador da vida. Para incentivar o contato entre as 17 associações anualmente a prefeitura realiza concursos, premiando a melhor produção ou organização das hortas. Luigi, 70 anos, exibe os troféus de Ca’ Rossa. Cada concessão dura três anos, mas pode ser renovado de acordo com o uso adequado da área ou da procura de novos idosos que desejam participar.
A produção da horta é destinada apenas ao consumo próprio. Caso tenha sobras não é permitido vender, o excedente deve ser doado aos projetos sociais da prefeitura. Os idosos removem as pedras e as ervas daninhas de um terreno destinado a ser improdutivo, seja aquele público ou a própria vida de aposentado, para produzir assim beleza e alimento para si mesmo e para a sua cidade. Na pontuação para a concessão da horta, quanto mais velho, solitário e com a menor renda maior a chance de ganhar o seu pedaço de terra e entrar para o cobiçado e seleto grupo dos idosos horticultores de Forlì.
Fonte: http://projetocolabora.com.br/
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